quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Aproveitem um pouco de Vaguinho e até de Jec

Não gosto de postar nada na integra, respeito a propriedade intelectual, mas tenho que admitir que gostei do que li... É um simples jogador de futebol, falando como jogador de futebol. Se é mentira ou verdade não sei, só sei que gostei. Simples e fácil, que nem o futebol. E ainda por cima fala do Joinville.

 

Aproveitem a entrevista de Vaguinho, ex Jec, publicada na Gazeta Esportiva (http://www.gazetaesportiva.net/entrevista/futebol/ent198.php )

 

“Traído por si mesmo”, Vaguinho esquece o doping e busca nova vida no Canindé - por Rafael Ribeiro, especial para a GE.Net

Sumido desde que foi flagrado por uso de maconha, Vaguinho, atacante da Portuguesa, resolveu finalmente quebrar o silêncio após 41 dias de reflexão. Nesta entrevista exclusiva, a primeira desde o ocorrido, o jogador revela arrependimento pelo trago, que garante ter sido acidental em uma festa de aniversário. Ele recebeu a reportagem da GE.Net em seu apartamento, no bairro da Casa Verde, Zona Norte paulistana. Explicou a opção por desaparecer do clube no último mês, falou das expectativas para o seu futuro e até do imbróglio pelo qual passa sua renovação contratual.

Vágner Luis da Silva nasceu no dia 13 de setembro de 1981, em Mococa, interior paulista. Revelado pela Ponte Preta, teve uma passagem sem grande destaque pelo Joinville. Chegou à Portuguesa no começo de 2007, como parte do plano de renovação do elenco proposto pelo técnico Vágner Benazzi para a disputa da Série A-2 do Campeonato Paulista. Conquistou o título, foi figura importante em boa parte da excelente campanha do acesso à Série A do Brasileirão, mas acabou ganhando os holofotes não pelos gols marcados e as boas jogadas.

A vida de Vaguinho mudou radicalmente na tarde do dia 9 de novembro, quando seu nome apareceu na chamada principal do site da CBF. Não era uma convocação à seleção brasileira, como aconteceria com os companheiros Diogo e Leonardo, mas sim a divulgação do até então único caso de doping na Série B. E a substância encontrada não poderia ser mais comprometedora: metabólito do Tetraidrocanabinol, cientificamente conhecida como cannabis sativa, popularmente chamada de maconha, em exame realizado no empate por 2 a 2 da Lusa com o Paulista, pela 27ª rodada da competição.

Punido com 120 dias de suspensão pelo STJD, às vésperas do massacre rubro-verde de 6 a 2 sobre o Barueri, resultado fundamental para que o acesso fosse confirmado dias depois, Vaguinho reconhece que lhe faltou maturidade e, por este motivo, planeja mudanças, notadas até pela confusão atual de seu apartamento.
O lugar será devolvido após a atual reforma, pois o atleta planeja morar em um local mais próximo do Canindé, provavelmente no bairro de Santana. Sinal dos tempos, afinal, ele está de casamento marcado para o próximo dia 28. A noiva, ironicamente, foi esquecida bem na noite da festa que acabou originando o doping do jogador. Apesar da escapada de Vaguinho, a garota manteve-se fiel ao saber da verdade e o ajudou no período de lamentação e tristeza que seguiu o flagra nos exames da CBF.

Em meio às provas das roupas e os preparativos finais para a troca de alianças, Vaguinho mantém a esperança de reduzir a pena imposta pelo STJD, que lhe tira dos gramados até o dia 7 de março. Se a pena for mantida integralmente e o atacante permanecer no Canindé, fica a expectativa da reestréia no jogo contra o São Paulo, marcado para a 13ª rodada do Campeonato Paulista. Se depender de Benazzi, espécie de ‘segundo pai’ do jogador, a escalação está garantida.

Gazeta Esportiva.net: Vaguinho, nesta sua primeira entrevista, uma pergunta é inevitável: o que de fato aconteceu para você ser flagrado no antidoping?
Vaguinho: Vim de família pobre, que trabalhava na zona rural, e tive uma oportunidade de jogar futebol em Campinas. No início da carreira, eu não era tão santinho assim, não. Saía, pegava umas festas, ia para as baladas, mas nunca fui de fazer nada que me prejudicasse. A única coisa que via que estava me prejudicando era perder algumas noites de sono por causa da cervejinha, mas isso aí a maioria dos jogadores fazem, ninguém esconde.
O que aconteceu desta vez foi que fui à festa, que era de ambiente familiar, um aniversário de um amigo, e tinha um barato lá de fumar narguilé... Fui saber o nome só agora que o advogado da Portuguesa, o Doutor Valdir (Rocha) me falou. Tinha bastante gente, mas eu não vou citar nomes. O rapaz que estava fazendo aniversário também estava fumando. Eu já tinha tomado umas, estava de folga e comecei a fumar com eles. E depois de uma cervejinha e outra, senti que estava meio tonto. Achei até que era por causa da cerveja mesmo, porque não estou acostumado a beber e se eu bebo quatro cervejas eu já fico ruim. Senti tontura, mas nem falei nada ao médico (Julio Stacanti) e ao Benazzi. Até porque se eu soubesse que tinha usado essa substância, chegaria neles e falaria numa boa, os dois são pessoas que têm a mente aberta e você pode chegar e falar de coisas até particulares que não têm nada a ver com o clube.

GE.Net: Quer dizer que você não sabia mesmo os riscos que corria?
Vaguinho: Foi isso que aconteceu e acabei flagrado no exame antidoping no dia do empate por 2 a 2 com o Paulista. Até dei azar porque no jogo, não estava muito bem e as pessoas podem pensar que usei aquilo naquele jogo. Mas o que ocorreu mesmo foi nesse aniversário.

GE.Net: Na hora, você não reparou nada estranho, nada que desse mesmo a entender que era maconha?
Vaguinho: Eu não senti nada. Até pessoas mais novas que eu sabem que a maconha tem um cheiro diferente do aroma que estava lá. E você pode ver nos barzinhos aqui da Zona Norte, até aqui perto de casa. Tem bares que eles colocam (a narguilé) lá para quem quiser usar. E eu, como curioso que sou, fui querer fumar aquele dia e acabei sendo pego. Mas acho que a vida não acaba por aí, não. Ainda sonho em voltar a jogar e gostaria que fosse pela Portuguesa. Mas teve um pequeno problema lá entre a Portuguesa e meu procurador...

GE.Net: Já que você citou o assunto, apesar do bom relacionamento com a diretoria, a renovação está sendo complicada. Ouvindo a Portuguesa, tudo parecia estar caminhando para um acerto rápido. Quais os empecilhos encontrados no meio do caminho? O que o seu procurador (Oldegard Filho) está pedindo?
Vaguinho: Essa história do procurador agora eu vou começar a falar. Eu não tinha procurador e o pessoal do Joinville me indicou o seu Oldegard, que é um agente Fifa, coisa que poucos são hoje aqui no Brasil. Conversei um pouco com ele e entendo que é uma pessoa muito fina, muito centrada naquilo que quer. Pode ver que ele tem vários jogadores, como o Fernandinho (lateral-esquerdo do Cruzeiro) e o Alecsandro (atacante, também da Raposa), que são destaques. Deixei bem claro no clube que minha prioridade sempre seria a Portuguesa. Vamos ver o que acontece.

GE.Net: Depois do doping, você se preservou bastante e chegou ao ponto de se recusar a aparecer na foto oficial do acesso. Por que esse tipo de comportamento?
Vaguinho: A gente vinha trabalhando, fazendo um ano excelente. Surgiram várias propostas do exterior e de times grandes, até do Brasil também, e então aconteceu isso comigo na reta final. Fiquei chateado. Eu quis me desligar totalmente, fui para uma cidadezinha onde ninguém me conhece, fiquei lá com minha noiva retirado. Não vi nenhum programa de esportes para não ficar com aquilo na cabeça. Já vi o que aconteceu com muitos jogadores, que quiseram meter a boca, foram na imprensa falar. No meu caso foi um acontecimento inesperado e eu preferi ficar um pouco afastado para não me exaltar nas declarações. Estava nervoso, nervoso comigo mesmo por ter desperdiçado uma oportunidade. Agora é bola para frente, estou com casamento marcado para o dia 28. Não foi um ano muito negativo, foi mediano. O Vaguinho estava escondido lá no Sul e agora novamente as pessoas aqui de São Paulo viram que eu estava fazendo um trabalho correto e tenho tudo para voltar em 2008.

GE.Net: Pode-se dizer que a amizade com o técnico Vágner Benazzi ajudou um pouco a amenizar os reflexos da suspensão? Ele usa até o termo ‘filho’ ao se referir a você...
Vaguinho: O Benazzi é uma pessoa que me ajuda muito. Ele sempre pede para o Dirceu (massagista) vir falar comigo, perguntar se está tudo bem. O professor é uma pessoa diferente, que se preocupa com o atleta e é muito diferente de outros treinadores. O Benazzi me chama de filho e eu sempre vou tê-lo como um pai. Quando ele estava no Avaí, me pediu para ir para lá. O carinho é muito grande.

GE.Net: Além dele, mais alguém te deu força nesse momento difícil de reclusão? E sua família, como reagiu ao fato?
Vaguinho: Quem me deu mais força foi minha noiva, que ficou comigo o tempo todo. Poderia ter me abandonado. Dia 28 agora, ela poderia não estar casando comigo, mas ficou do meu lado. E no momento em que aconteceu isso (doping), ela não estava presente. Fui lá na festa sem pensar em comunicá-la porque pensei que não seria nada demais, até porque ela conhece outras pessoas que estavam lá. Até minha mãe, que é uma pessoa meio alterada, meio ‘estouradona’, ao contrário do meu pai que já é mais sossegado, ficou do meu lado, me ajudou, ficou preocupada. Meu sogro, minha sogra, meus familiares me apoiaram muito porque sabem a pessoa que eu sou. Nesse caso foi bem tranqüilo. Meus amigos verdadeiros me ligaram. Este período afastado foi bom para ver quem realmente está do meu lado.

GE.Net: Para quem chegou de forma discreta no começo do ano, até que você respondeu bem dentro de campo, dividindo os holofotes com o Diogo e sendo aclamado pela torcida mesmo depois do flagra no doping. Fica o sentimento de frustração por deixar o time justamente no momento mais importante da Lusa desde 1996?
Vaguinho: Eu queria estar lá, no dia da foto oficial, como foi no Paulista da Série A-2. Estive chateado, mas depois fiquei feliz pelo ano maravilhoso da Portuguesa, um trabalho excelente em todos os termos. Quando você faz as coisas corretamente, com certeza você alcança o objetivo. A Portuguesa precisa continuar nesse caminho, nessa luta, nesse empenho.

GE.Net: Teme ficar alguma seqüela do episódio no comportamento da torcida? Como espera encontrá-la para a próxima temporada?
Vaguinho: Como atleta profissional, tenho de ir a campo e esquecer tudo, fazer o melhor pela Portuguesa. Tenho certeza de que se eu não estiver correspondendo, os torcedores vão chiar mesmo, vão falar, mas tenho a certeza de que, em 2008, vou permanecer na Portuguesa e a torcida não vai vaiar. Vai aplaudir como sempre aplaudiu e presenciar cada vez mais as jogadas que deixei de fazer no restante do campeonato.

GE.Net: E os planos para 2008? Afinal, além da indefinição com a Portuguesa, também existe a pena do STJD para cumprir...
Vaguinho: Esse doping atrapalha no sentido de ter mais esse período para cumprir ainda (78 dias, mas cabe recurso). Não sei o que os advogados vão fazer para poder diminuir essa punição. Dia 2, vou me reapresentar e terei mais 25 dias de contrato para cumprir. Mas vamos ver, isso é o Oldegard que vai discutir lá com a Portuguesa. Pelo que eu sei, para entrar com o recurso é rapidão.

GE.Net: Mesmo conhecida por cobrar de forma dura, a torcida lusa reagiu positivamente ao seu caso, gritando o seu nome nos jogos finais. Como foi acompanhar tudo isso à distância? Seus companheiros também fizeram uma homenagem...
Vaguinho: Eu fiquei sabendo. Alguns amigos meus me ligaram lá da arquibancada para que eu pudesse ouvir. Fiquei sabendo que o time entrou com uma faixa, que a torcida gritou o nome. Isso que faz a gente permanecer, a querer ficar. Não tem como largar a Portuguesa rapidamente e sair com o serviço feito pela metade. Não assisti ao jogo, mas fiquei muito emocionado.

GE.Net: Como você avalia a atuação do departamento jurídico? Conseguiram uma pena de 120 dias, considerada pequena por especialistas em casos que envolvem o uso de drogas.
Vaguinho: O Doutor Valdir, além de advogado da Portuguesa, se tornou um amigo desde que eu cheguei. Coloquei o caso nas mãos dele, conversamos bastante. Eu estava ciente que iria pegar uma punição, mas é claro que a gente queria brigar pela absolvição. O departamento jurídico colocou até um advogado do Rio de Janeiro, um dos melhores tratando dessa questão de doping. Fizeram um esforço muito grande, ajudaram bastante. Eu só fiquei um pouco chateado porque o médico não foi lá no dia do julgamento. O depoimento dele poderia até ajudar um pouco mais, mas eu não tenho do que reclamar. Vou ter que pagar por esse erro. Estou do lado do Doutor Valdir. O médico não foi porque de certo tinha uma coisa importante para fazer no dia. Só mando um recado para a torcida, que pode ter a certeza de que em 2008 vão ver o Vaguinho vestindo a camisa da Lusa, porque é uma camisa que caiu muito bem para mim.

GE.Net: Ficou uma mágoa com o Doutor Stacanti ou da diretoria, então?
Vaguinho: De certo o médico estava ocupado lá no dia e a Portuguesa achou que, pelo fato de ter um advogado do Rio seria o suficiente. Mas, acho que o depoimento do médico, seria uma ajuda muito grande ali na hora da defesa. Mas não tenho mágoa nenhuma. Gosto demais do Senhor Iauca (Luís, vice de futebol luso), do presidente Manuel (da Lupa). Não tem nenhuma rixa, tenho uma admiração muito grande pelo André (Heleno), do Carlos (Justino), Adriano (Azevedo) – todos diretores de futebol. Não tenho bronca nenhuma da direção, só elogios a fazer e sei que eles estão do meu lado, já conversamos sobre isso. A questão da renovação fica para o Oldegard falar com eles.

GE.Net: O curioso é que logo após o estouro do seu caso surgiu o doping do Romário, flagrado com 41 anos pela primeira vez (por uso de substância proibida encontrada em tônicos capilares). Acompanhou a história?
Vaguinho: A gente fica meio assim de falar do Romário. Depois do Pelé, ele é o maioral aqui no futebol. E é um ídolo também, admiro desde criança. Tem substâncias aí que estão até em alimentos. Se você comer, não pode entrar em campo ou é pego no doping. Acho meio estranho. Deveria ser só algo que a pessoa usou na partida. O que a pessoa faz cinco, seis dias antes, precisa ser revisto. Às vezes, você está em casa, tem uma convulsão, está com alguma doença que precisa ir na farmácia imediatamente senão pode vir a falecer, aí você vai deixar de tomar, ficar doente, para poder jogar? No caso do futebol existem substâncias que não ajudam tanto assim no rendimento, só atrapalham. É preciso pensar direito antes de punir as pessoas. O próprio Romário tomou um negócio para o cabelo que não tem nada a ver. Você acha que aquilo lá ia fazer o Romário correr mais, fazer mais gols do que ele já fez?

GE.Net: Ficou uma lição desse episódio, algo para você aprender daqui para frente?
Vaguinho: Eu estou chateado comigo mesmo por ter ido a um lugar inapropriado. Já havia mentido para ir nessa festa, então isso foi uma traição comigo mesmo. Já que não era para ter ido lá, preguei essa peça em mim mesmo para aprender. A gente fica vacinado nas coisas para não fazer novamente

GE.Net: Você já até teve uma experiência desagradável antes e pensou em abandonar a carreira. Conte como foi essa história.
Vaguinho: Isso aconteceu quando saí da Ponte Preta. Fui emprestado, voltei para Campinas, consegui pegar o meu passe e fui para o Joinville. Fiquei um ano lá e gostaria de levar o time para a Série B junto dos meus companheiros e não conseguimos. Daí eu já fiquei um pouco chateado de ver um estádio daquele, uma cidade daquelas jogando a Série C. O Joinville merecia estar na Segunda ou na Primeira pela estrutura que tem. Eu vi que estava lá e não aparecia nada e por isso pensei em largar. Foi sofrido para seguir esse caminho e, graças a Deus, o Benazzi apareceu na minha vida, me levou para a Portuguesa. Não pensei duas vezes em aceitar. O clube vivia um momento difícil, era o começo de 2007, tudo estava triste, caído por estar na Série B. Mas com a chegada do Benazzi, as coisas foram mudando.

GE.Net: O gosto pela bola falou mais alto, então...
Vaguinho: Futebol é gostoso demais jogar, tem pessoas que gostam da gente. Vendo você atuar, as pessoas ficam alegres. Alguns ficam o dia inteiro dentro de casa, vão ao estádio ver o time do coração jogar e voltam felizes pela vitória. Futebol é emocionante, é gostoso de praticar. E já que escolhi essa profissão, agora, tenho de ser bem centrado, bem mais profissional do que já fui para poder seguir novamente.

GE.Net: Ficar marcado em um clube como a Portuguesa valeu a pena no final? Acredita que o doping será menos lembrado do que o título da A-2 e o acesso no Brasileiro?
Vaguinho: É gostoso demais fazer parte da história. Eu tenho esse DVD que o pessoal fez, sobre o título da A-2. Foi emocionante. Vamos estar velhinhos e ter a fita para mostrar aos filhos, aos netos. Para mim isso que importa. É motivo de dar parabéns à Portuguesa por ter feito nesse ano o que muitos clubes não estavam fazendo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Zeca...parabéns!
Passou dos 1000 antes até do Natal...

tchau Romário...
cuida que o Túlio tá chegando!

abrasss

Rubinho Girardi disse...

Vaguinho é um atleta consciente e iluminado. Tenho certeza absoluta que dará a volta por cima, pois além de grande jogador, em todos os times onde atuaou conquistou o carinho da torcida e companheiros.
Sucesso Artilheiro !!!.