terça-feira, 28 de agosto de 2007

Toque do Corneta - Edição 10 - Talento sem comando resulta em desperdício

Vou adentrar num campo de total desconhecimento prático para mim, algo que devo ao meus 1,72 metros de altura, mas enfim, se tivesse muito conhecimento não me denominaria de corneta. Ademais, me sinto no direito de falar sobre o assunto, uma vez que me dou ao luxo de permanecer acordado até mais tarde para assistir as partidas do basquete brasileiro (quem me conhece sabe o quanto representa retardar meu sono).

16 é um dos meus números da sorte, talvez então até seja um bom sinal, se é que tem algo de bom em tudo isso. Afinal 16 serão os anos em que o basquete brasileiro passará longe do jogos olímpicos. Em Londres quem sabe retornaremos, mas muitos podem se perguntar, por que não agora? Por que não Pequim? O que falta?

Afirmo com certeza que a única coisa que não falta é talento. Não cometerei o absurdo (talvez até seja crime se o fizer) e dizer que essa é a seleção mais talentosa, pelo simples fato de contar com jogadores que jogam na famosa liga de basquete dos EUA. Já cheguei ao cúmulo de pensar que Oscar nasceu na geração errada e que se o tivéssemos hoje na seleção alcançaríamos grandes feitos. Ledo engano, porém em tempo, talvez ele tenha nascido em geração errada, poderia ter participado do bi-mundial por tudo que ele representa ao nosso basquete.

Mas não, não seria a presença do gênio Brasileiro (com B maiúsculo) que resolveria a atual seleção a tempo de conquistar a vaga no pré-olímpico, ora em disputa. Afinal, como já falei não é o talento que falta. Leandrinho é tão bom que "absurdamente" vimos Kobe Bryant se doar na sua marcação durante o jogo inteiro entre EUA x Brasil. Nenê, como eu li em algum lugar que me foge a memória neste momento, parece um adulto jogando no meio de juvenis, tamanha capacidade física. Tiago Splitter é um jovem promissor, se não o fosse o atual campeão da liga americana o esperaria por um ano? Alex compensa sua altura com uma capacidade acima da média (e só não continua na tal liga famosa por uma série de infortúnios) e são eles acompanhados de outros atletas também talentosos, Valtinho, Marcelinho (com o qual sinceramente não simpatizo e acho que ele não pode fazer parte do quinteto titular, algo muito subjetivo, todavia), João Paulo, Murilo, Marquinhos, Nezinho. Para não falar em Anderson Varejão que for fazer parte da liga estado-unidense não se juntou à nossa seleção. A prova de que não nos falta talento foi o 4o. lugar obtido no Mundial Sub-19 recentemente.

O talento por si só, porém, não resolve. E o Time dos Sonhos já aprendeu essa lição através de duras derrotas em torneios internacionais. Tanto aprendeu que mesmo tendo, a meu ver obviamente, o time mais talentoso desde a primeira versão do Time dos Sonhos. por contar com Kobe Bryant, Lebron James e Carmelo Anthony, o que se vê é doação, aplicação tática (por mais que você não entenda, como eu, basta assistir a um jogo do Brasil e um da equipe deles para notar sua presença ou ausência), e principalmente comando. Um corpo técnico, altamente qualificado comanda essa geração que tem tudo para repetir os feitos do monstro Jordan e do mágico Johnson. Não importa o placar, afinal ele sempre aponta no mínimo um vantagem de dois digitos para eles, em todo tempo técnico, os norte-americanos param atentamente para ouvir as correções a serem feitas, ou a melhor estratégia para dar seguimento a atuação, 95% do tempo avassaladora e pior, esse jogadores, os melhores do mundo, se doam para a equipe jogam em conjunto e não trocam ofensas a cada erro, o que se vê na nossa equipe.

Mas se esse é o problema é fácil, contrata-se um técnico, de preferência estrangeiro (eu sinceramente acho que este é um dos passos que se tem que tomar, mas como já disse, não sou grande conhecedor do tema), e tudo se resolve. Mas o que não precisa ser nenhum expert para perceber é que só um técnico (apesar de melhorar muito) não resolveria, vez por todas, o problema. Afinal, o buraco é mais embaixo, aliás, mais encima. O problema no (des)comando vem desde a alta cúpula da CBB, e os resultados do nosso basquete são reflexo desse descaso, de um campeonato nacional de baixo nível técnico, falta de estrutura de base.

Assim, os atletas com talento, que continuam a surgir nesse país, cada vez mais cedo (mais cedo até que o futebol) partem para Espanha, EUA, Lituânia, Rússia, França, Itália, etc. E esperar que depois é só amontoar aqueles que mais se destacam que uma grande equipe surgirá naturalmente, é a mesma coisa que esperar que o quarteto fantástico ganhe uma Copa do Mundo apenas por causa do nome em suas camisetas.

Faltou garra sim, faltou doação sim, faltou aplicação tática sim, mas é difícil ter tudo isso quando falta o comando, seja o imediato ou mediato, como faltam ao nosso basquete.

Sinceramente, por não ser um grande conhecedor que espero estar errado, espero que somente o talento seja o suficiente para nos levar a Pequim, porque em caso contrário, a seguir o rumo atual, nem Londres verá uma geração a qual só não se pode dizer que falta talento.

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